09 August 2007

ARESTAS



Nina Nastasia - Run To Ruin




Kristin Hersh - The Grotto

Pode, se calhar, dizer-se que, sem Kristin Hersh, Nina Nastasia teria sido provavelmente diferente do que é. Mas, agora, deve dizer-se também que talvez esteja a fazer falta a Kristin Hersh escutar Nina Nastasia para poder imaginar uma forma sua de regressar aos óptimos tempos de Hips And Makers. Porque todas aquelas arestas que faltam a The Grotto para ser algo mais do que apenas uma muito boa colecção de bonitas canções acústicas geradas por uma mente singular estavam já presentes em The Blackened Air (o anterior de Nastasia) e regressam agora no mini-álbum (trinta e poucos minutos) Run To Ruin: o falso ar de "lo-fi" a dissimular um verdadeiro teatro cru de emoções (cortesia da produção de Steve Albini mas não só), a rudeza e aparente desarrumação da colocação dos diversos instrumentos — viola, violino, violoncelo, banjo, piano, acordeão, dulcimer, guitarras acústica e eléctrica, bateria — no espaço sonoro, a estética de folk simultaneamente melódica-segundo-a-"tradição" e dissonantemente cauterizadora, a escrita fragmentária "beat"/surreal, a atmosfera artesalmente gótica, a superior sofisticação de um enganador desleixo de recorte. "I Say That I Will Go" é a imagem paralisada de um labirinto rasgado de estridências, "Regrets" faz lembrar Suzanne Vega redesenhada por Sam Shepard, "The Body" sopra um murmúrio de câmara sobre a tumultuosa resolução final, "Superstar" evoca Neil Young sob o efeito de ketamina, "On Teasing" exibe um tango em forma de sofisma tragado por um tsunami e o resto contribui para a coerência global desta espécie de argumento esfarrapado para "road movie" residual. Com os de Cat Power e Neko Case, outro dos imperdíveis do ano na categoria "female-singer-songwriter". (2003)

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