22 September 2007

GOTEMBURGO, CAPITAL POP



Jens Lekman - Night Falls Over Kortedala




Irene - Long Gone Since Last Summer

Aos dezanove anos, Jens Lekman escreveu no diário: “Se este sonho não se tornar realidade, terei de enfrentar a verdade de que, muito depressa, ficarei velho e amargo”. E, para dar corpo ao sonho – pop, pop, pop, canções pop – e contrariar o envelhecimento precoce, não perdeu tempo e publicou de imediato uma série de singles e EP que, quatro anos depois, em 2004, regravaria para o álbum When I Said I Wanted To Be Your Dog, pequeno milagre de assombro onde nos dávamos conta de que, muito mais cedo do que ele próprio imaginaria, Stephin Merritt começava a deixar descendência pelos lugares menos prováveis do planeta. Ele, Lekman, entretanto, ia explicando como “adoraria, verdadeiramente, ser o Jonathan Richman; mas, tal como ele não conseguiu ser o Lou Reed, eu serei sempre um falhanço no papel de Richman, nunca seria capaz de ser assim tão despreocupado e ingénuo”. De caminho, ia montando as peças de uma tese pessoal pró-single e EP e anti-álbum (“Não tenho de todo a capacidade de concentração para conceber algo como um álbum. É por isso que não escrevo livros nem realizo filmes. Só descubro uma visão pura quando estou a escrever uma canção”) e, como não seria difícil de prever (sim, isso mesmo), compondo para o segundo álbum agora publicado, Night Falls Over Kortedala.



Que até possui um nexo temático global – o micro-pesadelo suburbano de Kortedala, nos arredores de Gotemburgo – e confirma Jens Lekman como mais um dos diversos e notáveis ourives pop que a pátria dos ABBA nos continua a oferecer regular e gloriosamente (já deste ano, não esquecer Hey Trouble, dos Concretes), reciclando e, como que por um efeito de distância e amável dislexia, reiventando os modelos de que se alimenta: Kortedala é pop sumptuosa à maneira do primeiro Scott Walker e também do segundo (quero dizer, Neil Hannon), é quase kitsch de “easy listening” tropical, é, outra vez, muito Richman e Magnetic Fields no seu melhor, é tudo isso em modo-“I’ll be your mirror” distorcido, desarrumado e desejavelmente vivo.



Poderíamos muito bem dizer praticamente o mesmo acerca de Long Gone Since Last Summer, segundo album dos Irene, outro robusto colectivo (dez elementos) de Gotemburgo que gira em torno da luminosa pop de Bobby (Tobias) Isaksson, revisionista jóia orquestral que, a quase tudo o que Lekman lança para o caldeirão, adiciona ainda, aqui e ali, os temperos distraídamente recolhidos na mítica Postcard dos Orange Juice e outros estetas do “jangle pop” escocês. O que terá, então, a Suécia de tão especial? Jens Lekman tem mais uma teoria: “Aqui está tudo virado de pernas para o ar. Falei com um tipo americano que me contou que, nos EUA, se crescêssemos a ouvir os Smiths, éramos aqueles que levavam pancada na escola. Eu, aos 17 anos, apanhei uma tareia de fãs dos Smiths”. (2007)

4 comments:

menina alice said...

Olha fui buscar Jens porque me pareceu, pela tua descrição das proezas, que poderia gostar e com efeito. Hoje já vai para o ZenInho.

João Lisboa said...

We aim to please.

Anonymous said...

gothenburg, yeah, I like this city up in the north!

saturnine said...

ah, o que eu já elogiei o Lekman depois deste Kortedala! é o meu antídoto para as coisas que doem mais do que deviam, como o sr. Hawley e o sr. Berninger. :)