29 January 2008

O SOM DO IMPÉRIO?
(II - uma série exumada a partir daqui)



Godspeed You! Black Emperor - Yanqui U.X.O

Por pensamentos, palavras e obras, os Godspeed You! Black Emperor estabeleceram definitivamente que: a) a sua música é, irremediavelmente, uma derivação veneradora e obrigada daqueles procedimentos que, desde o final da década de 70, Glenn Branca (com os Theoretical Girls e, posteriormente, em nome individual) e Rhys Chatham inauguraram, na exploração dinâmica de avassaladores crescendos contrastando com momentos de distensão e apaziguamento, na edificação de monumentais muralhas de som a partir de imensas massas tímbricas geradas a partir de ensembles de guitarras eléctricas e bateria (posteriormente alargados a outros instrumentos), e na investigação das possibilidades expressivas de amplos "clusters" tonais e consequente irradiação de leques de harmónicos; b) quando se escuta a música que um disco seu contém, é obrigatório não enxergar nele apenas música mas, principalmente, uma denúncia feroz do capitalismo e do seu tentacular polvo, da forma contemporânea do imperialismo enquanto máquina de opressão global, e dos objectivos bélicos e potencialmente genocidas do complexo industrial-militar norte-americano.



Dito isto, não adianta, pois, repetir o óbvio mas apenas referir que — podendo-se, eventualmente, recomendar a escuta de The Ascension, de Glenn Branca, de 1981— dentro dos parâmetros de avaliação que eles próprios se encarregaram de formular, Yanqui U.X.O. é o álbum onde o grupo, possivelmente, chega a dominar de modo mais consequente e esteticamente eficaz os mecanismos musicais de que, invariavelmente, se socorre, construindo painéis sonoros poderosos e avalanches de ciclos harmónicos em constante expansão e contracção, apelando, por vezes, ainda — tal como também Branca e Chatham faziam — à grelha arquitectural repetitiva desenhada, em meados de 60, por La Monte Young, Glass, Reich e Riley. Acerca da faceta "política" da música dos GY!BE, talvez valha só a pena sublinhar a ingenuidade estética do propósito (porque não estaremos autorizados a ler nela, por exemplo, uma transcrição sonora das tempestades hormonais durante o coito ou, então,... somente música?) e, já agora, sugerir como alternativa, nesse mesmo terreno, a escuta e análise da banda sonora de Apocalypse Now incrustada no próprio filme, sobre a qual a entrevista de Michael Sragow ao "sound designer" Walter Murch a propósito da "sonoridade do império" não poderia ser mais eloquente e educativa. (2002)

1 comment:

Anonymous said...

vai acima..... vem abaixo... vai acima..... vem abaixo