26 April 2009

UMA HISTÓRIA SANTA DO NOSSO OESTE
(ou, em "newspeak", da West Coast Of Europe)



Onde o(a) sujeito(a) passivo(a) dos superpoderes do grande e santo herói se apresenta

"'Quero manter-me em silêncio. Peço desculpa...', diz Guilhermina de Jesus, fixando o olhar por detrás dos óculos na mesa de madeira à qual está sentada com duas amigas a tomar café. (...) 'Estou bem. Mas não tenho nada a dizer. Falamos quando eu voltar', prossegue a franzina e discreta mulher de 65 anos, cabelo pintado preso num gancho."

De como, entre a frigideira e o instante de transcendência em que voltou a poder ver a telenovela, o sobrenatural interveio

(...) Foi a menos de 100 metros dali, no restaurante do filho onde trabalhava como cozinheira, que Guilhermina de Jesus feriu a vista com óleo a ferver. Era o dia 29 de Setembro de 2000, mas só foi ao hospital dois dias depois, relata ao DN frei Francisco Rodrigues, vice-postulador da causa da canonização. Os médicos consideraram a lesão irreversível, mas a esperança no Santo Condestável manteve-se. A 6 de Novembro, dia de D. Nuno, Guilhermina, família, amigos e pároco reuniram-se para fazer uma novena ao beato. Um mês depois, foi buscar uma lente para tapar a luminosidade da vista. À noite, no quarto, um impulso levou-a a beijar a imagem do beato e a dirigir-lhe uma oração. 'Diz que sentiu uma paz como nunca tinha sentido. Veio à sala, acendeu a televisão, constatando que estava a ver e que a vista já não lacrimejava'"(...)



Aqui se aprende, agora, como nem todas as Donas Brancas são Madoffs e por que razão, mesmo em questões de santidade, o que é nacional é bom

"A devoção ao Beato Nuno existe 'desde pequena, desde a escola primária, com a minha professora Dona Branca, comecei a gostar dele e a ter confiança nele. Quando comecei a trabalhar em Ourém, mais o conheci e mais gostei dele. É um santo português muito perto de Deus e que nos pode ajudar muito', acrescenta".

Eis, pois, São Nuninho e seu lema: "Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."

'Ele é um homem de palavra, de coerência, e torna-se conhecido por ser não só guerreiro, mas principalmente defensor. Nunca fez guerra, digamos assim, sempre defendeu', acrescenta, respeitando a dignidade de todos, independentemente de serem adversários no campo de batalha. O futuro Santo 'não deixava que o exército desbaratasse, depois de ganhas as batalhas, respeitava as pessoas'".



Como, muitos séculos mais tarde, aconteceria a Viktor estuprado por Olga, a sua pureza seria profanada mas apenas em nome de um Bem maior - a obediência ao pai

"A sua formação na doutrina da Cavalaria levou-o a 'querer viver puro e virgem, para se consagrar a Nossa Senhora'. O casamento aconteceu 'por obediência' ao pai, mas a presença de Maria é constante, visível na bandeira do Condestável".

São, agora, referidos, os espasmos quase tântricos do Amor pela Senhora e o episódio dos cavalos-videntes que, quinhentos anos antes de Lúcia, enxergaram entidades do Além pairando sobre azinheiras

"Já o cronista Carmelita José Pereira Sant’Anna dizia que Nuno Álvares Pereira chorava 'copiosamente' diante da imagem de Nossa Senhora, pedindo por ele e por todos os que se lhe recomendavam, pedindo graças. Uma tradição – que era repetida pela mãe da Irmã Lúcia – refere que quando o Condestável (que foi Conde de Ourém) passou pela Cova da Iria, os seus cavalos ajoelharam. 'É uma história que se contava em Fátima, não se pode provar, mas fica como o registo de uma devoção particular', indica o vice-postulador da causa da canonização".



Também, enfim, Guilhermina se terá feito transportar para o Além, para o "lugar incerto" de uma outra dimensão?

"Dentro das muralhas de Ourém, que albergam também a casa de Guilhermina, impera o silêncio. Porque a miraculada pediu para a manterem no anonimato, mas também porque poucos parecem saber o que realmente se passou. Actualmente, com 65 anos, encontra-se num 'lugar incerto'. 'Desde o dia 7 em que fui curada, senti uma paz muito grande que não quero perder por nada', explica. 'Não é muito comentado aqui', afirma Angelina, vizinha de Guilhermina, que se disponibiliza a levar-nos a sua casa. 'Ela foge...', comenta, aludindo à sua discrição, enquanto bate com força na porta". (narrativa hagiográfica recolhida aqui e aqui)

(2009)

2 comments:

margarete said...

a semana passada, uma sra no comboio dizia à amiga que quem ia ser canonizado era o pedro alvares cabral :D

João Lisboa said...

"quem ia ser canonizado era o pedro alvares cabral"

Outro santo!... A hora dele também há-de chegar.