22 March 2010

SÓ PODE SER POR CAUSA DA VIZINHANÇA

MC Snake

Mesmo ali ao lado do ilustríssimo César das Neves que, há semanas, derramava sabedoria acerca de Joan Baez, aparece, agora, Alberto Gonçalves, capaz de, em meia dúzia de linhas, explicar ao povo ignaro que "o hip hop tem pouco a ver com música e muito a ver com uma atitude de confronto face a uma sociedade que é, ou que se imagina, discriminatória. É, vá lá, um estilo de vida, traduzido à superfície no vestuário ridículo e nos gestos animalescos. E nas letras das 'canções' (?). As letras, que certa 'inteligência' considera 'poesia das ruas', são, além de analfabetas, manifestações de rancor social. Por norma, são também glorificações do crime e panfletos misóginos". E desenvolve, esclarecendo que "o hip hop nasceu na América enquanto braço 'musical' e tardio do black power, como os blaxploitation movies dos anos 1970 constituíram o seu reflexo 'cinematográfico' (as aspas não são fortuitas)" mas sendo, ao mesmo tempo, "principalmente uma invenção das indústrias discográfica e televisiva". Ficamos, pois a saber, que a indústria está feita com o "black power tardio" - seja lá isso o que for - e que o hip hop, como o rock, a ópera ou a culinária italiana, é todo igual (tudo isto, finalmente, para "legitimar" a morte por um agente da PSP do rapper MC Snake).

Também não sou especialmente fã de hip hop (nem de ópera - a culinária italiana é outra conversa). Mas, a propósito de qualquer assunto, não custa muito investigar um bocadinho antes de redigir a primeira colecção de disparates que vem à cabeça. As más companhias só podem dar nisto.

(2010)

10 comments:

fallorca said...

Málha-lhes João, até que a escrita te doa!

João Lisboa said...

Está descansado que não dói. :)

Anonymous said...

A soberba intelectual com que qualquer apedeuta discorre sobre qualquer assunto faz escola. Este tipo ainda acaba em gestor público.

João Lisboa said...

E o apedeuta pode acabar facilmente em gestor público mesmo sem fazer o apedeite.

fallorca said...

Ahahahaha que móirino!!!

Carlos said...

Alberto Gonçalves, enquanto cronista, não passa de uma cópia sem qualidade de Vasco Pulido Valente. Neste caso, o que escreveu, além de revelar ignorância, revela um carácter - ou a falta dele.

João Lisboa said...

Não confundir a obra-prima do mestre com a prima do mestre-de-obras.

Carlos said...

No caso concreto, prefiro outra versão: não confundir a Estrada da Beira com a beira da estrada.

João Lisboa said...

:)

pedro vieira said...

ou o máriodecarvalhiano não confundir o género humano com o manuel germano