17 October 2010

TOP5


Lloyd Cole - Broken Record

É exactamente como acontece em alguns dos melhores livros: à primeira frase, ficamos, instantaneamente, prisioneiros da leitura e, apenas admitindo ocasionais interrupções para satisfazer uma ou duas necessidades básicas, não lhe tiramos os olhos de cima até que (já com alguma saudade antecipada do momento em que o começámos) cheguemos à última página. Lloyd Cole – criatura letrada e bastamente literata – sabe disso melhor do que ninguém e não foi, de certeza, num momento de súbita inspiração que decidiu que Broken Record haveria de abrir com “Not that I had that much dignity left anyway”. E que, qual livro ou filme, a sequência (“nor could I feign great surprise when she finally walked away”) apresente, imediatamente, personagens e argumento em alta definição.



Com todos os “traços de autor” incluídos: melodia infecto-contagiosa, ironia autodepreciativa (uma nascente inesgotável de que, em "Westchester County Jail", poderemos, por exemplo, beber também “I look like a million bucks, sure I ain’t worth quite that much”) e aquela espécie de New England-country music que, mais intensamente nos 21 anos americanos de Cole, tem temperado a sua música. Desde o final dos Commotions, nenhum disco de Lloyd Cole foi menos do que bom. Acerca de Broken Record, porém, é obrigatório dizer que teremos de o arrumar algures – lugar definitivo ainda sob ponderação – no top5 do autor de Rattlesnakes. Joan Wasser, Fred Maher e Blair Cowan ocupam os lugares-chave na casa das máquinas e, por instantes (não se trata de deriva nostálgica mas de energia primordial recuperada), dir-se-ia que escutamos, de novo, a mesma banda de "Four Flights Up" ou "Are You Ready To Be Heartbroken". Sim, sim, isso mesmo.

(2010)

2 comments:

menina alice said...

Agora fiquei cheia de vontade e ainda num tenho.

João Lisboa said...

Sabes como resolver o assunto.

:)