17 May 2012

A REGRA DE TRÊS SIMPLES 
(2ª parte da entrevista com Jack White publicada na "Blitz") 


Não estava propriamente à espera de que um diálogo de vinte e cinco minutos com um dos 20 melhores guitarristas de sempre do rock’n’roll, de acordo com o ranking de 2011, da “Rolling Stone” (mais precisamente, o 17º - “the hottest new thing on six strings by celebrating the oldest tricks in the book: distortion, feedback, plantation blues, the 1960s-Michigan riff terrorism of the Stooges and the MC5”), pelo caminho, se desviasse para uma espécie de debate em torno da influência da religião no processo político norte-americano e suas peculiaridades anexas, sob o eventual alto patrocínio de Richard Dawkins. Mas tudo começou quando, em naturalíssima sequência da alegada “obscenidade da religião”, me ocorreu perguntar a Jack White o que pensava acerca do despique actualmente em curso nas primárias do Partido Republicano, travado à volta da magna questão de aferir quem é mais fanática e irremediavelmente conservador e cristão?

“Os políticos, na América, utilizam a religião como a forma mais fácil para serem eleitos. As pessoas assustam-se, supõem que há quem se preocupe imenso com questões morais, mas, no fundo, é apenas o caminho mais curto que descobriram para chegar ao poder. Imagina que, se algum candidato se declarasse abertamente ateu, poderia, alguma vez, ser eleito presidente? Nunca na vida. Poderia ser mil vezes mais capaz e mais qualificado para o cargo que todos os outros mas nunca seria eleito”.

A resposta à interrogação seguinte – “posso perguntar-lhe em quem votou nas últimas presidenciais?” –, porém, foi ainda mais desconcertante:

“Em ninguém. Nunca votei para a presidência. Recuso-me a fazê-lo porque não acredito no sistema do colégio eleitoral que não respeita o voto popular. O presidente deveria ser eleito por voto directo: aquele que tivesse maior número de votos ganharia. Mas o que acontece é que é eleito pelo colégio eleitoral, uma relíquia repugnante que data do século XVIII e que permitiu, por exemplo, que George W. Bush fosse eleito sem ter alcançado a maioria dos votos. Ganhou através do colégio eleitoral e não pelo voto popular. É absolutamente ridículo, mas ninguém parece preocupar-se com isto”.

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