17 July 2012

ATÉ QUE O OUTONO REGRESSE
 

Beach House -  Bloom
 
Os Beach House têm uma canção e tocam-na e cantam-na muito bem. É, aliás, a mesma canção que já haviam repetido por dez vezes em Teen Dream (2010) e que, em igual número de sucedâneos, voltam a incluir no alinhamento de Bloom. Embora os 7 052 389 169 humanos que constituem a população do planeta (descontando Alex Scally e Victoria Legrand, o duo Beach House) no instante em que escrevo possam sentir uma natural dificuldade em o confirmar, Victoria assegura que, desta vez, se trata de uma obra sobre “o insubstituível poder da imaginação e a forma como ele se relaciona com a intensa experiência da vida”. Poderá resultar de um insanável défice no meu “insubstituível poder da imaginação” mas nunca seria devido às suas propriedades decorrentes da “intensa experiência da vida” que me ocorreria recomendá-lo como dieta sonora de Verão.


Na verdade, isso deve-se a motivos assaz diferentes: é, justamente, naqueles dias e semanas em que as elevadas temperaturas tendem a paralisar o funcionamento do cérebro, a reduzir o metabolismo até valores pouco acima do coma e as “intensas experiências de vida” não são, de todo, recomendáveis, que a música dos Beach House deverá ser considerada como terapêutica de primeira linha. Esta infusão de "dream-pop" que destila, em diluição homeopática, meia molécula de Mazzy Star e um pouco menos do que isso de Cocteau Twins (análises laboratoriais mais rigorosas conseguirão detectar outros vestígios), esta espécie de suave tinnitus benigno em regime de beatitude pós-coital que recupera as qualidades opiáceas de Julee Cruise/Badalamenti e as converte em papel de parede para moradia de férias à beira-mar é tudo o que poderíamos desejar até que o amável Outono regresse.

2 comments:

Anonymous said...

Caro Johny Lisbon
não será um pouco velho, ou será acabado, para falar de exeriências de verão? O disco é bom, mas se o Johny diz bem, algo de mal resolvido terei... a corda joão, acorda...

João Lisboa said...

Cafetra?...