14 January 2013

OITO (+ QUATRO) ACHAS PARA A FOGUEIRA (VII)



Leonard Cohen - Songs Of Love And Hate

Se houve um momento em que ninguém duvidou que o formato da canção, tal como a segunda metade do século XX a conheceu, não era, de todo, incompatível com o texto literário poético, muito mais do que no caso de Bob Dylan, isso aconteceu na totalidade da obra de Leonard Cohen e, em particular, no devastador Songs Of Love And Hate. Não porque, aqui, Cohen se tenha aproximado da palavra e da melodia de forma diferente do que já fizera ou viria a fazer. Como sempre, o que o leva a mover-se é “a intoxicação pelo amor, a ideia de me render como um ébrio perante esse mistério, como no êxtase de Santa Teresa. Todos esses processos – cristãos, islâmicos, sufis, judaicos, tântricos – de união com Deus que passam por uma metáfora sexual, por uma embriaguês com o ser amado”. Mas nunca como desta vez, tais passos seriam dados tão à beira do abismo (“And we read from pleasant Bibles that are bound in blood and skin that the wilderness is gathering all its children back again”), tão próximo do desespero final que o esgar que nos olha da capa mal disfarça (“Now Santa Claus comes forward, that's a razor in his mit; and he puts on his dark glasses and he shows you where to hit”), tão sufocadamente aflito perante a perda e o fim de tudo (“There are no letters in the mailbox and there are no grapes upon the vine, and there are no chocolates in the boxes anymore, and there are no diamonds in the mine”). Abraçado à sumptuosa decadência desenhada pelas orquestrações de Paul Buckmaster, resta apenas o êxtase material (“here, right here, between the birthmark and the stain, between the ocean and your open vein, between the snowman and the rain, once again, love calls you by your name”) e o fogo que derrete o gelo de uma Joan Of Arc chamada Nico.

No comments: