11 May 2013

LADO B


Logo ao princípio, fica-se na dúvida: será Sandy Denny ou Linda Thompson? Mas, imediatamente a seguir, na primeira entrada do refrão, com a totalidade do "ensemble" intrumental e as harmonias corais, tudo parece indicar que se trate de Richard & Linda Thompson. Embora, escutando melhor, também não seria impossível estarmos a ouvir os Fairport Convention, numa versão alternativa de "Meet on The Ledge". Ou algo próximo disso. A verdade é que a canção que Bonnie ‘Prince’ Billy e Dawn McCarthy interpretam é "Breakdown", quinta faixa daquele álbum de Kris Kristofferson (The Silver Tongued Devil and I, 1971) que, em Taxi Driver, Travis Bickle/Robert de Niro oferece a Betsy/Cybill Shepherd depois de ela o ter descrito através de uma frase de outra canção ("The Pilgrim, Chapter 33") desse disco: “He's a prophet, he's a pusher, partly truth and partly fiction, a walking contradiction”. Mais à frente, dir-se-ia claramente termos sintonizado os Jefferson Airplane, por volta de 1967, aplicando a "Somebody Help Me" – tema do jamaicano Jackie Edwards a que, um ano antes, o Spencer Davis Group também se havia atirado – o mesmo tratamento que daria origem a "Somebody To Love". E, pouco antes do fim, os primeiros 60 segundos de "Poems, Prayers and Promises", de John Denver, são puros Simon & Garfunkel do tempo em que Paul e Art tinham desistido de se chamar Tom & Jerry, sua adolescente encarnação inicial sob a magna inspiração dos Everly Brothers.



O que vem imensamente a propósito uma vez que What The Brothers Sang, terceiro capítulo da colaboração de Bonnie ‘Prince’ com a cantora e compositora dos sobreexcelentes Faun Fables (urgência máxima para a escuta de Family Album, 2004, The Transit Rider, 2006, e Light Of A Vaster Dark, 2010) após The Letting Go (2006) e Wai Notes (2007), reúne a sua dupla visão de treze temas de Phil e Don Everly, anunciada no final do ano passado pelo single "Christmas Eve Can Kill You" (instantâneo tudo menos tradicionalmente feliz da noite de 24 de Dezembro). Correcção: como o título, de facto, aponta, estas são algumas das canções que os irmãos Everly cantavam porque só raramente eram eles os autores do próprio reportório. O que concedeu a Will Oldham e Dawn McCarthy a total liberdade (de que mui liberalmente tiraram partido) para relerem as composições dos atrás referidos e ainda de Felice e Boudleaux Bryant, Karl Davis, Goffin/King, Tony Romeo e vários outros artífices da indústria musical de maior ou menor relevo, sem se sentirem excessivamente obrigados a manter no radar a característica sonoridade pop/folk/rock/country + harmonias vocais em terceiras paralelas dos Everly Brothers. Fazendo ainda questão de não optar pelo modelo revisão de "greatest hits": escusam de procurar que não encontrarão aqui "All I Have To Do Is Dream", "Bye Bye Love" ou "Wake Up Little Susie". Mas, em contrapartida, numa espécie de rememoração da história evolutiva da música popular dos últimos 60 anos com desvios, mutações genéticas e hibridações inesperadas – este não é mais um caso clínico de “retromania” – permite-nos espreitar para o lado B dos Everly Brothers e vê-lo como nunca imaginámos. 

1 comment:

Anonymous said...
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