14 January 2014

SOBRAS


Aparentemente, segundo um estudo de 2012 de Robert Hammond, professor de Economia na North Carolina State University, ao contrário do que nos habituámos a pensar, um álbum que, por meios ilícitos, fique disponível na Internet um mês antes da data de edição oficial, não só não será prejudicado por esse motivo como beneficiará de um acréscimo de vendas por ele estimado em 59,6% (ressalvando, porém, que isto apenas se aplicará a músicos e bandas de primeiro plano e não a “valores emergentes”). Mesmo não esquecendo que, como afirmou um sábio, “Deus criou os economistas para que os meteorologistas pudessem ter alguma credibilidade”, a confirmar-se o ponto de vista de Hammond, é bem provável que Bruce Springsteen deva ficar grato à Amazon por, acidentalmente, durante alguns minutos, no passado 28 de Dezembro, ter feito o "upload" do seu último álbum, High Hopes – estava agendado apenas para 14 de Janeiro –, assim levando o espírito de Natal a uma legião de "file-sharers" por todo o planeta. O que até é capaz de lhe dar jeito, uma vez que High Hopes não é exactamente “o novo álbum” de Springsteen mas tão só uma colecção de sobras de outros álbuns, versões de temas alheios e reinterpretações de canções suas já publicadas. 



Para fã que é fã, marcha tudo mas aquela extensa margem que decide da maior ou menor projecção de um disco poderá não encontrar aí motivo suficiente de interesse. E a verdade é que, para além disso, High Hopes contém um sério problema e ele chama-se Tom Morello (Rage Against The Machine, Audioslave): justamente o género de guitarrista viciado em solos exorbitantes, fogo de artifício bombástico e "show off" redundante que, presente em oito das doze faixas, transforma "The Ghost Of Tom Joad" num festival de uivantes vulgaridades hard-rock e não melhora muito na maioria das restantes. Não menos inquietantes são a personagem de pregador "born again" que Springsteen assume em "Heaven’s Wall" e "This Is Your Sword" (supostamente recuperadas do projecto abandonado – "praise da lord"! – de um álbum de inspiração bíblico-espiritual), e uma certa atmosfera que paira de Born In The USA revisitado. Um correctíssimo dogma afirma que Bruce não grava maus discos e este, não sendo dos melhores, não é excepção. Mas a única springsteeniana realmente digna desse nome aqui presente, "Just Like Fire Would", é de Chris Bailey, dos Saints. Porque, antes de ser, já o era.

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