22 October 2014

ARTE & POLÍTICA 



A polémica teve início no número de Maio da “Uncut”. Na edição anterior, a revista havia publicado quatro páginas sobre Pete Seeger (morto a 27 de Janeiro deste ano) e, na secção de cartas dos leitores, um tal Jon Groocock insurgia-se contra a glorificação de um “activo comunista numa altura em que a democracia ocidental travava uma luta intensa contra o socialismo totalitário global”. E acrescentava que a música apenas poderá ser subversiva “se não estiver amarrada a nenhuma ideologia”. O tiro de partida estava dado: desde então até ao mais recente número da “Uncut”, todos os meses, a discussão tem conhecido novos capítulos, com Ewan MacColl (1915-1989, "folksinger", poeta, dramaturgo, "songwriter", actor, marido de Peggy Seeger, irmã de Pete, e pai de Kirsty MacColl) a ser também chamado à conversa e denunciado como maoísta, e, na outra trincheira, os defensores da tese de que a arte, militante ou não, deverá ser avaliada pela sua relevância enquanto criação artística e não de acordo com o seu posicionamento político.

Londres, Russell Square (clicar para ampliar) 

É verdade que Pete Seeger, que apenas militou no Partido Comunista norte-americano entre 1942 e 1950, tendia para a excessiva promiscuidade entre arte e política (durante o pacto germano-soviético, as canções dos seus Almanac Singers opunham-se à entrada dos EUA na guerra; quando, em 1941, Hitler atacou a União Soviética, o reportório, subitamente, virou antifascista e pró-guerra) e que MacColl entoou louvores a Estaline e Mao. E não é menos verdade que, fossem Pinochet ou Franco os incensados, outro galo cantaria. Porém, evitando retomar vetustas querelas sobre Leni Riefenstahl vs Eisenstein, as questões verdadeiramente essenciais foram, há cerca de um ano, abordadas na exposição “Art Turning Left”, da Tate Liverpool: a busca da igualdade pode transformar a criação artística? Devemos conhecer os criadores? Pode a arte exprimir uma voz colectiva? Será a arte capaz de se tornar parte da própria vida? Agradeçamos, pois, à fotógrafa Grace Gelder ter-nos, pelo menos, respondido à última interrogação: como contou ao “Guardian” de 4 de Outubro, "Isobel", de Björk, mudou-lhe literalmente, a existência. Ao ouvi-la cantar “My name is Isobel, married to myself”, compreendeu como a sua alma gémea sempre fora a que a olhava do espelho. E, em Março passado, perante 50 convidados, casou-se consigo mesma.

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