31 August 2015

LIMPAR O PÓ AOS ARQUIVOS (XXIV)

(com a indispensável colaboração do R & R)

(clicar na imagem para ampliar)

VINTAGE (CCLXIII)

The Flying Lizards - "Money"
 
Já desisti de sonhar com o dia em que milhares de ignorantes deixarão de confundir o "Pedro e o Lobo", do Prokofiev, com a fábula do Esopo

Sergei Prokofiev - Pedro e o Lobo (L. Bernstein c/New York Philharmonic)
 
"(...) Gostava de saber por que motivo um manual escolar custa 42 euros. Pensava eu, na minha estupidez de estúpido, que os livros escolares deveriam, em regra, custar menos do que a média dos restantes livros. Quando muito, deveriam, custar o mesmo do que os outros livros. Um manual de estudo deveria, por exemplo, custar o mesmo que o romance de um autor mundialmente famoso, que para ser editado em Portugal exige o pagamento de direitos, negociações internacionais, traduções, etc. Ou deveria custar o mesmo que um daqueles calhamaços de História, de grandes especialistas estrangeiros, com centenas e centenas de páginas. Por exemplo, Dia D – A Batalha da Normandia, do famoso historiador britânico Anthony Beevor. É um livro de 690 páginas. Custa 24,40€. E é editado pela Bertrand que… faz parte do grupo Porto Editora. Se a Porto Editora/Bertrand consegue comercializar um livro de Anthony Beevor, com 700 páginas, por 24 euros, por que razão vende praticamente pelo dobro do preço um manual de Biologia para o 11º ano de escolaridade? (...)"
Palhacitos eleitorais (II)

Um bonito e comovente momento 
de intimidade homoerótica







29 August 2015

...and you will know us by the trail of dead

 
("Expresso")
 
"O partido Nova Democracia, criado em 2003 pelo ex-líder entrista, Manuel Monteiro, desistiu da corrida eleitoral.(...) 'Só ainda sou militante porque me esquei de enviar a carta'"  
("Expresso", edição em papel)

Nick Cave - "People Ain't No Good"

28 August 2015

(... com o apoio do ministério da Cultura)

Os clássicos
 

Chegámos ao ponto de 
"não sei se ria, se chore"
 (ainda que a lei seja idiota)

"Tem pensamentos que o incomodam, quer porque surgem insistentemente, quer porque o seu conteúdo lhe provoca ansiedade e lhe parece absurdo, e de que gostaria de se livrar, mas, por mais que tente, não o consegue fazer? Sente-se na necessidade de repetir algumas acções várias vezes, sem nenhum motivo aparente? Obsessões são pensamentos, impulsos ou imagens mentais, desagradáveis, estranhos face ao historial de vida de quem os tem, e que surgem de uma forma repetida e que resistem a ser expulsos da consciência. O facto de surgirem intrusivamente, vindos do nada, de continuarem a intrometer-se na vida do dia-a-dia, de resistirem a desaparecer, apesar dos esforços nesse sentido, e a própria estranheza dos seus conteúdos, origina um elevado desconforto e ansiedade e a pessoa sente-se compelida a fazer algo para reduzir esse mal-estar" (aqui)
dEUS existe e é um fdp (ou, então, o KGB da Vaticano S.A. entendeu que o julgamento poderia tornar-se demasiado conspícuo)
Tópico da "universidade 
de Verão" do PSD
É uma epidemia

27 August 2015

O marido da poetisa Silva já começou a treinar para comentador político e eventual candidato a substituto do "sit-down comedian" (a pose não será lá muito presidencial mas, com a pobre reforma que o homenzinho e a cara metade vão ter, há que não descurar nenhuma hipótese para arredondar os futuros fins do mês)
Com extraordinária eloquência, a ministra da Administração Interna exprime o ponto de vista do governo (em relação a, praticamente, tudo)
M3LL155X 


Quando, a 6 de Agosto do ano passado, foi publicado LP1, já os anteriores EP1 (2012) e EP2 (2013) nos tinham obrigado a arregalar olhos e ouvidos perante a magnífica e sufocante estranheza das imagens e sons que FKA twigs – com Arca/Alejandro Ghersi e Jesse Kanda à ilharga – nos lançava à cara, coisa oriunda de Interzone sideral, definitivamente o género de estimulante de que a música contemporânea precisa como um afogado necessita de oxigénio. O álbum de estreia foi, assim, somente a fulgurante confirmação da suspeita de termos, enfim, a possibilidade de escutar música que não se limita a perseguir, incessantemente, a própria cauda e não vive exclusivamente do gesto de mirar, à socapa, o espelho retrovisor da História. A brigada de catalogadores não descansou enquanto não a capturou no interior de fronteiras minimamente reconhecíveis – por exemplo, a jaula do “R&B futurista” ou “alternativo” – o que conduziu twigs/Tahliah Barnett a, justissimamente, desafiar: “Não se trata de eu não querer ser classificada como R&B, mas há, igualmente muitas outras coisas. Falemos, então, de tudo!”



Tudo é, precisamente. o que, 12 meses depois, volta a descobrir-se no EP de cinco faixas, M3LL155X, ler MELLISSA, a ninfa que alimentou Zeus com mel e, na versão de twigs, o nome da sua energia feminina primordial. Veneno new age à vista? Não nos preocupemos (por enquanto): o conteúdo mais subliminarmente esotérico em que poderemos tropeçar são assaz explícitos farrapos de mensagens - “Teach me how to lead with my middle finger”, “Love me rough, I'm your doll”, “Shut your eyes and feel the rush, will you fuck me while I stare at the sun?” –, argumento mínimo para um vídeo de cerca de 17 minutos por ela realizado, no qual, por entre vertiginosas reconfigurações de “vogueing”, jorros de líquido amniótico multicoloridos, aparições da lendária musa-"evil witch" tatuada franco-argelina, Michèle Lamy, e sobreposições do rosto de Tahliah ao corpo de uma boneca insuflável, vítima ambiguamente submissa de violação, se lê um guia labirinticamente feminista do que, confundindo género, vulnerabilidade, explorações sonoras terminais e radical abstraccionismo digital, só poderia ter lugar num clube onde ninguém, na verdade, dança mas imagina o que poderia ser dançar.

20 August 2015

 




(fotos daqui)
MR. JONES

Conta Alberto Manguel, em Uma História da Leitura (1996), que "o universo, na tradição judaico-cristã, é concebido como um livro escrito, feito de números e letras; a chave para o compreender reside na nossa capacidade para ler estes números e letras adequadamente e conseguir o domínio das suas combinações, aprendendo, assim, a dar forma a alguma parte desse texto colossal, numa imitação do criador”. E, optando por uma perspectiva utilitária mas, certamente, não de menor importância, refere uma lenda do século IV segundo a qual os eruditos talmúdicos Hanani e Hoshaiah estudavam o Sefer Yetzirah (ou “Livro da Criação”, o mais antigo texto clássico do esoterismo judaico, atribuído a Abraão) uma vez por semana e, através da combinação acertada das letras, criavam um vitelo de três anos que comiam ao jantar. Exactamente há 50 anos, o judeu-norte-americano, Robert Allen Zimmerman, aliás, Bob Dylan, numa canção – "Ballad Of A Thin Man", de Highway 61 Revisited – gravada a 2 de Agosto de 1965 e interpretada ao vivo, pela primeira vez, 26 dias depois, em Forest Hills, Nova Iorque, escarnecia de quem, perante um mundo que mudava rapidamente de pele, era totalmente incapaz de o ler: “Because something is happening here, but you don’t know what it is, do you, Mr. Jones?”

Stephen Malkmus & The Million Dollar Bashers - Banda sonora de I'm Not There (real. Todd Haynes, 2007)
 
Até hoje, multiplicaram-se as interpretações acerca de quem, na realidade, seria Mr. Jones (a tendência para o "gossip" obcecado com a árvore em detrimento da floresta é antiga) mas seria Momus que, em "Who Is Mr Jones?" (The Little Red Songbook, 1998), daria a resposta definitiva: “Bob Dylan at the height of his fame got asked the same question again and again, in a forest of microphones, 'Tell us, Bob, who really, who really is Mr. Jones?' (…) He's a real person, you know him, you don't have to be so imaginative, the answer is blindingly obvious: Mr. Jones is a man who doesn't know who Mr. Jones is”. A verdade é que o mundo se tornou vertiginosamente indecifrável e somos cada vez mais os que, todos os dias, ao despertar de sonhos intranquilos, nos descobrimos, tomados de pânico samsiano, convertidos não em barata mas em réplica de Mr. Jones - como, por outras palavras, diria o também visceralmente judeu Woody Allen: “Deus morreu, Marx morreu e eu próprio não me sinto lá muito bem”. O testemunho mais recente, num dos últimos números do “Jornal de Letras”, é da nada judaica e bem mais helénica Hélia Correia: “Estou sem coordenadas e oscilo (...). Não sei o que é pensar. Como se pensa?”
Aaaaaah!... claro, claro, 
nada de confusões...
a perspectiva potichiana (I)





E, neste momento, um teórico da conspiração garantiria que a coligação convenceu o 44 a escrever isto (em troca de benevolências futuras), contribuindo activamente para a vitória-PáF de 4 de Outubro