06 September 2016

MAPAS SONOROS


No princípio, foi John Cage: “There’s no such thing as silence”. Ideia necessariamente completada e desenvolvida: “Estejamos onde estivermos, o que ouvimos é maioritariamente ruído. Quando o ignoramos, perturba-nos. Quando o escutamos, achamo-lo fascinante. O som de um camião a 50 milhas à hora. A estática entre estações de rádio. A chuva. Queremos controlar e capturar estes sons para os usar não como efeitos sonoros mas como instrumentos musicais. (...) O compositor (organizador de sons) terá à sua disposição não apenas a totalidade do campo sonoro mas também a totalidade do espectro temporal”. Alguns anos mais tarde (1977), Murray Schafer, abriria The Tuning Of The World com uma citação da “Song Of Myself”, de Walt Whitman (“I hear all sounds running together, combined, fused or following, sounds of the city and sounds out of the city, sounds of the day and night”), e um programa: “Que sons desejamos conservar, encorajar, multiplicar? (…) Pesquisas documentais, análise das diferenças, das semelhanças e das tendências, a protecção dos sons ameaçados de extinção (...), permitirão colocar, enfim, a questão essencial de saber se a paisagem sonora é um facto consumado que não podemos inflectir ou se somos, nós próprios, os seus compositores e intérpretes. Neste livro, considerarei o mundo como uma imensa composição musical”.



Tinha-o já posto em prática através do World Soundscape Project, na Simon Fraser University, de Vancouver – a primeira exploração organizada de ecologia acústica que articulava sociologia, planeamento urbano, filosofia e as várias artes –, e a descendência, até hoje, foi numerosa: da Wildlife Sound Recording Society ao World Forum For Acoustic Ecology e a blogs e arquivos sonoros como Sounds of our Shores/British Library, Europeana Sounds, Soundscape Explorations, Cities and Memory, Museum Of Endangered Sounds, ou o luso Lisbon Sound Map. O mais recente é The Next Station, primeiro mapa sonoro interactivo do Metro de Londres, para o qual contribuiram cerca de 100 "sound designers", músicos e residentes londrinos (e do resto do mundo), que tanto se dedica à captura dos espécimes sonoros subterrâneos como convida à sua mistura e reconfiguração, numa cartografia alternativa, paralela à real. Já existem, pelo menos, duas particularmente significativas: uma, de Martin A. Smith, que reimaginou Moorgate com acordeão, sinos e cigarras da Provença, e outra, da sueca Anya Trybala, que, sobre um "field recording" de Piccadilly Circus, criou uma meditação sobre o Brexit. “Mind the gap!”

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