11 November 2016

2 comments:

Anonymous said...

"Durante muitos anos a única pessoa que eu sabia que gostava de Leonard Cohen era o senhor João Lisboa. Quero dizer: daquele Cohen antigo, da década de 60, que eu tinha vergonha de admitir que apreciava. Talvez a minha timidez me impedisse de conhecer as pessoas certas, mas já ia a meio do primeiro ano da faculdade quando conheci um tipo ("my brother, my killer") que também ouvia religiosamente o educador sentimental da minha geração - e lia religiosamente o senhor João Lisboa. Esse meu amigo queria escrever sobre canções em jornais e não exagero se disser que entre Cohen, o senhor Lisboa e esse meu amigo está mais de metade daquilo em que me tornei: fui viver a vida que esse meu amigo queria viver mas não viveu, imitando o tipo que admirava, de modo a escrever sobre o tipo cujas canções me educaram. Não foi um falhanço grandioso, não foi uma grande queda, apenas a queda expectável, a mediocridade comum. Quando comecei a escrever descobri que felizmente havia muitos apreciadores de Cohen; entretanto, o senhor João Lisboa, de longe o tipo que (para mim, para mim, não se ofendam) melhor escreveu nos jornais em Portugal desde que me lembro e a razão pela qual comprava o Expresso, já pouco escreve. O meu irmão, não sei bem onde o deixei, não tenho talento para olhar para trás. E se não vale de muito agradecer a mortos ainda é possível dizer que sem o senhor João Lisboa eu nunca teria aberto as orelhas. A escrita, seja numa canção ou num simples texto de jornal, ilumina e, quando feita por alguém da dimensão do senhor João Lisboa, enche-nos de questões. Se cheguei a Cohen foi através dele, se consegui descodificar alguma coisa em Cohen (entre tantos) foi graças a ele. Foi como um tio que traduzia o braille da vidinha através de canções. Para mim não há Cohen sem o João, o tipo que ensinou ceguinhos a ouvir. Não sei que mais dizer." João Bonifácio no Facebook.
E eu subscrevo.

João Lisboa said...

"o senhor João Lisboa (...)já pouco escreve"

Por acaso, nem é verdade (pode confirmar-se aqui). Mas esse texto do JB, com a melhor das intenções, coloca-me no lugar de "maître à penser", estatuto de que não sou grande adepto.

Anyway, obrigado.